Genética na Comunidade
Obesidade Matheus Bérgamo e Michelle Susin
A obesidade é definida pelo aumento de massa do tecido adiposo, que tem influência direta no peso corporal. Para o diagnóstico de obesidade é usado o índice de massa corporal (IMC), que consiste em peso/altura². Uma pessoa que apresenta um IMC entre 25 kg/m² e 30 kg/m² é considerada com sobrepeso, e uma pessoa que apresenta um IMC acida de 30 kg/m² é considerada obesa. Esses valores de IMC são validos para o diagnóstico quando a pessoa apresenta aumento de peso às custas de tecido adiposo.
O tecido adiposo é formado por células denominadas adipócitos, e está localizado, fisiologicamente, no tecido subcutâneo (camada de tecido abaixo da pele) e na cavidade abdominal, onde reveste as vísceras. Apresenta funções como: armazenamento de lipídios (como discutido no tópico de metabolismo nutricional), isolamento térmico e elétrico, além de funções neuroendócrinas relacionadas a sensação de fome e ao metabolismo dos carboidratos.
O impacto da obesidade na população e no indivíduo
Em 2019 foi visto que 20% da população adulta brasileira apresentava obesidade, e previsões da organização mundial de saúde (OMS) é que a prevalência dessa condição aumente. O desenvolvimento da obesidade está mais diretamente relacionado ao sedentarismo e a dieta hipercalórica, onde se ingere uma maior quantidade de energia (calorias), que não são gastas e serão armazenadas na forma de lipídios no tecido adiposo. Além disso, existem outros fatores que influenciam no desenvolvimento da obesidade, como a microbiota intestinal e a herança genética, que é multifatorial com vários genes envolvidos, as dentre eles o gene KDM6A, já citado, que apresenta papel na promoção da proliferação dos adipócitos.
Figura 1. Combinação da condição genética, onde os genes KDM6A, CSF2RA e TNMD estão em aumento de dose e consequentemente podem levar a obesidade, em duas situações: a) onde há uma dieta desequilibrada, que ultrapassa a necessidade calórica do organismo em conjunto com o sedentarismo. Ou b) mesmo com uma condição genética que tende a obesidade, com hábitos alimentares equilibrados, ou seja uma ingesta calórica adequada para o gasto metabólico, e a realização de atividade física, pode-se prevenir ou até reverter o quadro de obesidade.
A obesidade quando instalada interfere em outros sistemas tanto pela proliferação do tecido adiposo quanto pela interligação em rotas metabólicas, como ilustrado na Figura 1, por exemplo: a dieta hipercalórica que leva a obesidade normalmente está associada ao alto teor que colesterol dos alimentos, este colesterol quando absorvido em excesso pode se depositar nas artérias, onde junto a infiltração de macrófagos forma as placas ateroscleróticas que são fatores de risco para eventos cardiovasculares, como o infarto e a acidente vascular cerebral (AVC); os lipídios, normalmente são armazenados pelos adipócitos, mas quanto se encontram em altas concentrações no sangue, as células do fígado podem desempenhar o papel de armazenamento desse excesso, o que em grandes quantidades pode prejudicar o funcionamentos do órgão; o tecido adiposo necessita de insulina para absorver a glicose, em indivíduos obesos há uma maior necessidade de insulina, devido a maior quantidade de tecido adiposo, o que ao longo do tempo pode sobrecarregar o pâncreas e ajudar no desenvolvimento do diabetes tipo 2; o grande depósito de gordura intra-abdominal pode aumentar a pressão da cavidade e dificultar a contração do musculo diafragma, principal musculo que atua nos movimentos respiratórios, e, portanto, ajudar na instalação da dificuldade respiratória. Além de outras influencias que a obesidade pode oferecer a outros sistemas, como o auxílio no desenvolvimento de hipertensão arterial e a sobrecarga sobre o sistema musculoesquelético que pode levar a lesões articulares e fraturas ósseas.
A obesidade no portador da Síndrome de Klinefelter
Matheus Bérgamo e Michelle Susin
Enquanto que, na população em geral, a obesidade prevalece em 20% dos indivíduos, dentro da população portadora de SK sua prevalência pode chegar a 40%. Essa diferença já foi associada ao hipogonadismo que os homens com klinefelter apresentam, onde a menor concentração de testosterona e a maior concentração de estrógeno, principalmente, estimulam a obesidade. Entretanto, a obesidade apresenta fatores genéticos importantes para o seu desenvolvimento, dentre eles os genes KDM6A e o CSF2RA, presentes no cromossomo X que sofrem efeito de dose e que influenciam na proliferação de adipócitos e de macrófagos (torna o tecido adiposo mais inflamado), respectivamente. Além desses, outro gene que, possivelmente, contribui para o desenvolvimento e a perpetuação da obesidade, que é o gene TNMD. Este gene codifica uma proteína de membrana que impede a formação de novos vasos no tecido adiposo, o que, por sua vez, deixará o ambiente tecidual mais susceptível a moléculas inflamatórias produzidas pelos adipócitos e macrófagos. Posteriormente esse fator contribui para a resistência à insulina desse tecido.