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Portadores da síndrome de Klinefelter apresentam uma fisionomia típica?                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                   Matheus Bérgamo e Michelle Susin

        Portadores da síndrome de klinefelter apresentam alterações na métrica corporal característica dessa população, mas diferente da síndrome de Down, a síndrome de Klinefelter não apresenta uma fisionomia tão destacada. Muitas vezes, os indivíduos portadores de SK apresentam uma estatura mais elevada, acompanhada do aumento do comprimento das pernas. Essa alteração no comprimento dos membros inferiores, já foi associada ao gene SHOX que se encontra em dose aumentada nessa população.

      O gene SHOX está presenta no cromossomo X, em uma região denominada PAR, que tem a característica escapar da inativação do cromossomo X. Isto é, grande parte dos genes desse cromossomo são inativados, porém, a região PAR é uma das que não sofre essa inativação e seus genes continuam ativos. O SHOX está expresso quase que exclusivamente nas células progenitoras ósseas, que no desenvolvimento embrionário darão origem as células ósseas. E o gene atua de forma a manter a população dessas células maior, de maneira que, após o nascimento, o indivíduo apresenta um maior potencial de crescimento comparado com indivíduos que não apresentam o gene SHOX em maior quantidade.

Quais são as características antropométricas mais encontradas?
                                                                                                                         Matheus Bérgamo e Michelle Susin

         Dentre as pesquisas realizadas para documentar quais são as alterações físicas dos portadores da síndrome em comparação com pessoas sem a síndrome, foram encontradas as seguintes questões: maior acumulo de tecido adiposo junto ao aumento do Índice de Massa Corporal (IMC), maior prevalência de ginecomastia (que é o desenvolvimento de mamas no homem), redução do volume testicular e redução da capacidade de contração dos músculos esqueléticos, que pode se refletir na agilidade e na coordenação durante a movimentação e a atividade física. Além dessas alterações, a Tabela 1 traz outras variações comum dentre os portadores de SK. Infelizmente, os estudos que descreveram essas alterações, não foram conclusivos em apontar um fator principal para elas, mas deixaram a hipótese de que essas características estejam também associadas a baixa concentração de testosterona nesses indivíduos. Esta hipótese se torna mais forte quando colocada ao lado dos resultados do tratamento de reposição de testosterona, que mostra que os indivíduos tratados apresentam uma redução importante na quantidade de tecido adiposo e uma menor prevalência da ginecomastia, por exemplo.

       Sobre tudo, vale ressaltar que todas as características citadas são encontradas em um grupo de indivíduos, e a partir disso se extrai uma média de valores ou uma frequência de aparição de determinada característica, o que pode não expressar a realidade de cada portador da síndrome. Por exemplo: a frequência de aparição de ginecomastia é de 36%, pouco mais de 1/3 (um terço), dentro de um grupo de 73 pessoas, isto é, 26 pacientes apresentavam ginecomastia e 47 pacientes não tinham essa condição.

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Tabela 1. Outras características comuns dos portadores de SK. Embora essas características tenham sido as mais encontradas dentre a população de pacientes que participou do estudo, não significa que serão características presentes em todos os portadores da síndrome.

O que é a Ginecomastia ou o desenvolvimento da mama no homem?
                                                                                                                     Matheus Bérgamo e Michelle Susin

       A ginecomastia é definida pelo aumento do volume das mamas masculinas pelo desenvolvimento e a proliferação do tecido glandular mamário, que normalmente ocorre nas mulheres. A lipomastia, ou pseudoginecomastia (falsa ginecomastia) pode ser confundida com a ginecomastia verdadeira, pois ambas cursam com o aumento do volume da mama masculina, mas, na lipomastia, o aumento da mama está associado ao aumento do tecido adiposo da região. A diferença entre ginecomastia e lipomastia pode ser feita através de um exame de ultrassonografia, no qual será possível identificar qual tecido está compondo aquele aumento de mama.

     Com uma prevalência de até 36% na população de portadores da síndrome de klinefelter, a ginecomastia já foi associada ao aumento da concentração de estradiol, junto a menores concentrações de testosterona. Isso ocorre porque nas células do tecido grandular mamário existem receptores para o estradiol, que quando estimulados promovem o desenvolvimento desse tecido. No indivíduo do sexo masculino, é mais comum que a testosterona predomine frente ao estradiol, dificultando o desenvolvimento da glândula mamária, que se encontra atrofiada nesse gênero.

       O surgimento da ginecomastia é mais comum da fase da puberdade, pois é nela que as características sexuais de cada gênero começam a se desenvolver. A priori, não foram encontrados estudos que demonstrassem causas genéticas diretas para o desenvolvimento da ginecomastia. Além disso, foi demonstrado que o aumento da concentração de testosterona, às custas de sua reposição (por via oral nesse estudo em questão), na puberdade auxiliou na regressão da ginecomastia. Dessa forma, evita-se a correção da ginecomastia via cirurgia, reservando para casos pontuais.

Há explicações genéticas para a diminuição das características sexuais secundárias masculinas?
                                                                                                                   Matheus Bérgamo e Michelle Susin       

          Estudos com o objetivo de encontrar características antropométricas específicas de portadores da síndrome de Klinefelter foram realizados, e seus resultados mostram uma associação com o polimorfismo do gene que dá origem ao Receptor Andrógeno. O Receptor Andrógeno é uma proteína presente no núcleo das células, que é ativada pela ligação de di-hidrotestosterona, e promove a produção de RNA’s mensageiros que darão origem a proteínas que, por sua vez, apresentam funções específicas em cada célula, por exemplo, células epiteliais (da pele), na presença de testosterona, irão produzir proteínas que promovem a produção de pelos. O polimorfismo do gene desta proteína está associado a quantidade de repetições dos nucleotídeos CAG que pode ser entre 10 e 36 repetições. Foi descoberto que quanto maior o número de sequencias CAG repetidas, menor é a sensibilidade do receptor à testosterona, isto é, dependem de uma concentração de testosterona maior para que possam se ligando a ela possam ser efetivos.  Nos indivíduos portadores da SK ao se somar a concentração menor de testosterona ao maior número de repetições desses nucleotídeos no gene do receptor andrógeno, observa-se que o fenótipo da síndrome tende a ser mais acentuado. Desta forma, esse polimorfismo pode ser considerado uma das explicações para os diferentes “graus” (heterogeneidade clínica) da síndrome entre os pacientes.

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